LIBERDADE SIDERAL-Episódio 3



Dia 12 de Abril de 2222, data terrestre. Eram quase oito da manhã e o tempo corria solto.
 Gayo sentia-se bem melhor depois da sessão de exercícios, mas ao pensar em voltar para a ponte de comando e ter que pensar nos milhões de cálculos que tinha que fazer, só para tentar ver se havia alguma forma de escapar, sua cabeça girava. Em cerca de 24 quatro horas sua nave com toda sua família iria bater de encontro ao planeta que deveria salvá-los. Não havia mais energia suficiente nos reservatórios para a frenagem convencional. Eram apenas três pessoas na tripulação mas haviam gasto muito mais energia do que o planejado,  do que deveriam. Ele era engenheiro espacial, perito em otimização. Sua existência ali e naquela viagem só era possível por que ele seria encarregado do planejamento de todo um  novo planeta a ser colonizado. E a situação com a qual estava lidando era uma espécie de prova concreta que haviam chamado a pessoa errada. Como ele iria cuidar de um planeta em termos de otimização se não conseguira cuidar de uma simples nave com sua família? Se não morresse no impacto, era possível que morressem de fome se ele fosse demitido num planeta distante, numa galáxia distante. 
Sabia que precisava meditar. Mas nunca tinha paciência para isso. Não queria nem parar nem perder tempo. Mas ele também sabia que se não conseguisse, não teria energia nem cabeça fria para pensar e calcular uma solução. 
Felizmente,  havia uma sala especial de meditação. Muito especial. Projetada para pessoas como ele. A sala tinha alta tecnologia, desenvolvida para sintonizar a mente com aparelhos que elevavam sua inconsciência e baixavam seu estado consciente até um estado de equilíbrio. Era uma espécie de muleta virtual, ultra sensorial. Ficava num cubículo isolado, afastado da tripulação. Se alguém se perdesse ali, e morresse, seria bem difícil de encontrar, por que quase ninguém sabia que existia nem para o que servia. Ele adentrou o cubículo, sentou numa poltrona confortável, respirou fundo e relaxou. Havia levado um pouco de tempo para aprender como tudo funcionava. Descobriu o lugar sem querer fuçando os arquivos dos manuais da nave, e ficou muito curioso. Foi tentando usar até conseguir se desligar da realidade e parar de pensar.
Tão logo sentou, fez um simples gesto com o dedo indicador da mão direita e pequenos cabos próximos à sua cabeça saíram da poltrona se se ligaram a ele, dois na testa e um na nuca. Na ponta de cada cabo, sensores leves que se grudaram à pele, usando alguma espécie de magnetismo que ele mesmo não sabia explicar como funcionava.
Seu maior problema era que não conseguia parar de pensar em todos os problemas de uma vez só. Precisava reiniciar o próprio cérebro. Aquela era a única coisa que acreditava que poderia ajudar, mesmo assim, não podia ter certeza. Começou a ouvir uma música leve, muito relaxante. Luzes apareceram, como estrelas infinitas se aproximando, como se ele mesmo estivesse indo para longe... muito longe. Aquilo devia injetar algo em seu corpo, por que de repente ele começou a relaxar. Sabia que eram apenas ondas eletromagnéticas sintonizadas com eu corpo, e com a dimensão quântica alternativa que havia ouvido falar. As informações em seu cérebro, bem como sua natureza primordial estavam guardadas em uma dimensão da física que ainda era estudada, mas provada cientificamente. Ao saber disso, a viagem que estava tendo poderia ser possível, e seu reequilíbrio também. De repente, nada mais importava, a não ser viver aquele momento. O nada, ou tudo, o silêncio, a paz. Depois de uns 20 minutos, ele se sentia melhor. Mais forte, como se tudo fosse possível. Mas ainda tinha dúvidas. Os elos com a realidade ainda estavam lá fora. Ele viu uma luz maior se aproximar dele. De repente, sentiu como se estivesse saindo do próprio corpo. Pelo que havia estudado, estava "nadando" numa dimensão cósmica que antes chamavam de imaterial, mas era somente outro tipo de matéria antes desconhecida. Sentiu vontade de pedir ajuda. Olhou para a luz, e de repente ela parecia viva. Seria algum outro ser inteligente? Estava tão só e perdido que não custava tentar.
- O que eu faço agora?
A luz, a coisa, parecia responder como se fosse um pensamento muito interno dele.
"O que você acha que deveria fazer?"






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